O revoltado nem sempre percebe a sua revolta ele fica preso
num mundo de questões que não consegue responder nem entender. A revolta de que
me refiro é aquela que não se aplica a um ponto especifico, a um todo que não
se consegue explicar se está revoltado e ponto.
Camus da uma ideia bem interessante desta revolta a chamando
de revolta meta física por se tratar muito mais de uma revolta pela perspectiva
humana do que por algo mais objetivo elevando esta revolta a um questionamento
as leis de Deus, mas acredito que ela se aplique muito ao sentimento que nós
quatro sentíamos quando começamos a nos reunir em minha casa, não por estarmos
revoltados contra Deus, mas por termos em nós uma revolta que não conseguíamos
direcionar era algo maior e sem precedente para nossa compreensão.
Como já disse nem sempre consegui entender como a vida
funciona, mas quando conheci a Mary algo em mim se apaziguou e quase foi esquecido.
Havia substituído a inquietação por não compreender o mundo pelo amor que
sentia por ela e quando ela se foi o sentimento voltou de vagar e com força
quase não percebi ele chegar.
Juntando isso ao fato que meus outros três companheiros
tinham o mesmo sentimento de frustração com o mundo com a vida, veio o inevitável,
nossos encontros que passaram de alguns fins de semana passaram a ser diário
aja visto que nem aula estávamos tendo por conta da greve.
Com o Lui e a Kim morando comigo agora éramos seis jovens
sem nada que nos limitasse e ainda por cima com um combustível extremamente
perigoso para a alma, à revolta.
No começo tínhamos na revolta a ideia de contra por os
ideais existentes e produzimos e como produzimos.
À noite nos inspirava e dela tiramos muito proveito como no
dia que o Lucas levou algumas garrafas de vinho e por lá ficamos bebendo e
conversando. E lá pelas tantas o Lui pegou o violão e começamos a compor, eu a
Sonia compomos, a Flor nome que demos a esta musica.
Não me fale de flor, nem das cores lindas deste mundo.
Não me fale de amor, de sonhos sem sentido.
Não ande comigo nem segure minha mão,
Nessa estrada sem rumo somos só eu e a imensidão,
Seja sempre um em dois, e que se a tristeza vier que fique
pra depois...
Nunca terminamos esta musica e tantas outras que começamos.
Foram tempos bons e cheios de devaneios loucos e sensatos, tínhamos nossa
sensatez ficasse como que fosse era nossa, sempre nossa.
Nessa noite era lá pelas onze da noite a Kim me pergunta:
- Cara eu não vi você com ninguém até hoje, você é gay?
- Não, só não to a fim de ficar com ninguém por enquanto, eu
gosto muito da Mary sabe eu ainda penso muito nela.
- Mas e ai vai ficar sozinho até quando cara? Ela vazou uma
hora dessas ela ta lá nos estatis e você aqui se mantendo puro pra ela, que já
deixou bem claro que não te quer mais.
- Pior em Marcos, a Kim ta certa mano.- O Eric se metendo na
conversa.
- Me deixa quieto cara, to bem assim. Serio não to afim, eu
sei que acabou e entendi isso. Não é me manter puro é só...
- É o caramba, vamos sair pra dar uma volta e você vai
arrumar alguém pra transar e esquecer a filha da puta.
- Só eu posso chama-la de filha da puta Sonia.
Sorri pra Sonia, percebi que a Kim estava muito acelerada,
mas que também estava certa. Entramos nos carros e saímos pela noite de Campo
Grande, passamos em alguns bares da cidade e devo admitir eu estava muito fora
de forma, levei tanto não aquela noite que nem consegui contar. Quando estava
desistindo de levar fora naquela noite resolvemos passar numa festa que estava
acontecendo no campus da faculdade.
Chegamos e estava uma bagunça a festa era pra arrecadar
fundos para a marcha a favor da liberação da maconha, que merda, foi o que eu
pensei. O pessoal saiu pra fumar um pouco do alvo da marcha e eu fiquei por lá
tomando minha cerveja, quando eu vejo aquela cabeleira toda esvoaçada dançando
no meio das pessoas em frente ao palco improvisado onde um grupo de pessoas que
acreditavam tocar musica se apresentavam. Era a Elo o coração deu uma batida
mais forte, mas me mantive a distancia. De repente senti um tapa na minha
cabeça me virei pra ver quem era.
- Oi, e ai cadê teu amigo o Eric?
- Carla, ele saiu com um pessoal pra fumar um.
- Aquele safado, não o vejo faz uns dias acho que ele me deu
um fora.
- Isso você tem que ver com ele.
Começamos a rir e nem notei que a Elo se aproximou de nós.
- Oi, tudo bem Marcos?
- De boa e você?
- Bem, está sozinho ou veio com a esposa hoje?
- Eu to com alguns amigos.
- Deixou a mulher em casa de novo?
- Não, ela me deixou faz um tempo.
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