quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alma

Após criar o universo, Deus sentou-se a margem de uma galaxia qualquer, tinha criado tudo. Percebendo que os seres por ele criado não passavam de animais que viviam simplesmente dentro de uma programação que ele havia criado. Aquilo gerou um incomodo, percebeu que sua criação ficaria sempre ligada ao que ele queria. Tentou algo diferente então começou a criar seres que pudessem pensar, tivessem por si uma capacidade de existir fora de seus instintos.
Ele criou esses seres e os espalhou pelo universo, fazendo com que cada ser se adaptasse ao planeta em que estivesse, apesar de suas diferenças todos tinham algo em comum, podiam pensar e se questionar do por que estar ou existir. No entanto ao criar estes seres ele percebeu um fato, ao se questionarem eles se voltavam para a destruição, os indivíduos pensantes começavam a achar que era melhor e mais preparado que o outro e davam vários motivos mas acabavam por se exterminar em guerras e mais guerras, a inteligencia dada a estes seres só servia para a destruição. Muitos dos planetas povoados por Deus se extinguiram, com tudo que ele havia criado e de certa forma dado a estes seres pensantes.
Deus deixou esses seres de lado e começou a refletir sobre o que tinha criado, percebeu que os seres pensantes não tinham o mesmo respeito que ele por sua criação, como fazer com que estes seres entendessem sua criação, sem que interferisse na sua capacidade de agir de forma livre, longe de uma programação definida por seus instintos, esse ultimo fruto de sua própria criação. O dilema se criou como dar liberdade sem que isso significasse a destruição do que foi criado, os instintos junto a capacidade racional estava levando os seres pensantes a destruir tudo, por seus motivos racionalistas. Deus decidiu criar algo novo para seus seres pensantes, lhes daria algo com o qual pudessem entender o que ele sentia por sua criação, Deus então lhes deu a alma, pequenos fragmentos de sua própria existência que ele partilhou com todos os seres pensantes do universo. A partir do momento em que receberam sua alma os seres pensantes passaram a ter sua racionalidade confrontada com um sentir, a capacidade de amar as coisas e os seres em seu entorno, assim sendo a racionalidade perdeu sua força e a alma gerou o amor que fez com que as coisas se balanceassem, ainda existe destruição mas agora também existe a reconstrução, os seres pensantes continuam existindo e vivem suas vidas em vários mundos distantes um do outro mas todos agora tem mais uma coisa em comum todos tem uma pequena parte do ser que os criou.

O andarilho que ouvia a história fica observando a beleza da contadora de historias, maravilhado com sua beleza fica um tempo sem saber o que falar, a contadora por sua vez olha para o infinito como que esperando por algo. O silêncio dentro daquela sala abandonada pelo tempo é inigualável nem mesmo a chuva consegue quebra-lo.
- Bela historia contadora, no em tanto do que adiantam historias, ainda mais como esta que tenta explicar algo que não se explica. Os seres são racionais por que pensam? Para mim eles não pensam eles só acreditam que pensam, pois se fosse verdeira a capacidade de pensarmos, todos veriam que a vida é um eterno nadar em mar de tristeza e desilusão.
- Se isso é verdade andarilho, por que continuamos a nadar?
- Simplesmente por que de tempos em tempos temos gotas de felicidade que nos nutrem e nos dão forças para continuar nadando, como um ópio que nos faz esquecer a dor por um tempo e depois nos faz querer mais.
- Ou seja a vida é só um ciclo de vicio em felicidade?
- Pra mim sim, experimentamos a felicidade em algum momento de nossas vidas e passamos o resto dela procurando por mais, alguns a conseguem em doses maiores outros bem menos, mas no fundo todos somos viciados em felicidade por isso continuamos nadando num mar de sofrimento só para encontrar mais uma dose.
- Vejo que faz tempo desde que conseguiu sua ultima dose, a tristeza em você é tão forte que chego a creditar que...
Ela se interrompe como que sem saber o que dizer, a contadora fica quieta mais uma vez olhando pro nada.
- Um dia andarilho os olhos de uma criança olharam dentro de mim, de sua boca saiu uma pergunta simples, mas com toda a complexidade que os homens conseguem criar. A criança me perguntou se o destino podia ser mudado. Eu fiquei sem saber o que dizer ai me veio uma outra questão, o destino existe?
Porque se ele existe mesmo o fato de você muda-lo já estaria em seu destino assim o fazer, se ele não existe não existe nada para ser mudado, nada para ser culpado. E foi essa a resposta que dei a criança, primeiro você decide se acredita ou não em destino, se você acreditar ele nunca poderá ser mudado e você sempre terá algo a culpar por tudo que você não gostar na sua vida, mas se não acreditar não existira nada que precise ser mudado, pois você saberá que tudo na sua vida é por que você fez chegar.
- Outra historia contadora, meu filho me fez esta mesma pergunta no entanto não me lembro da resposta que dei a ele na época e o que isso tem haver com o que eu lhe disse?
- Acho que no seu caso é o mesmo, acreditar na sua teoria te afasta da responsabilidade que tem pelo sofrimento que sentes.
- Você pensa muito contadora, mesmo assumindo a responsabilidade pelo que acontece comigo nessa vida, ainda assim não deixa de ser verdade o que eu disse, pois existem fatos que não podemos controlar e fatos que nos levam a tragédia.
- Que tragédia andarilho, pessoas partem todo tempo, felicidade e tristeza são simples pontos de vista, dos contadores de uma mesma historia, você acredita sofrer por isso ou por aquilo você ira sofrer.
- Ponto de vista, não me faça rir, nem tudo é ponto de vista e nem todo sofrimento é por que queremos sofrer.
- Então ria andarilho pois tudo é ponto de vista e sim todo sofrimento é por que o queremos.
- Então você nunca sofreu contadora de historia, nunca derramou uma lagrima se quer?
- Só chorei na minha existência quando você não parou para me ouvir, andarilho são os homens e contadoras de histórias são suas almas...

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