terça-feira, 5 de julho de 2011

Flores de Papel

Nossa, será que é dia? São quatro da tarde perdi quase todo meu dia de folga, tenho que parar de dormi tão tarde, aquele lugar será que realmente existe ou foi só um sonho.
Deixa pra lá mais tarde eu descubro, tenho que arruma a casa é incrível como um computador, uma cama e algumas roupas causam tanta bagunça.
O que é você?
Por que toda vez que me vejo no espelho me faço essa pergunta?
Não me identifico faz tempos, o rosto me é familiar, mas quem eu realmente sou. Esta bem, vou limpar a casa que ganho mais.


Acabou duas horas de faxina deram resultado, eu diria que a casa está até bonita.
Vou ao cinema com pessoal, faz dias que não encontro com eles, vai ser legal vê-los de novo, e depois eu aproveito para passar lá e ver se eu estava só sonhando.
Que filme estranho, a companhia estava ótima, rimos muito acho que era por que o filme é muito ruim, não da para saber.


Despedi-me de todos vou caminhando, aquela pequena porta esta aberta de novo, não foi um sonho, sempre passei por aqui e me perguntava que lugar seria, fiquei imaginando que fosse um pub ou algo do tipo por que sempre passei por aqui de madrugada e a porta sempre estava aberta, via algumas pessoas entrarem. No entanto ontem, eu entrei um pequeno corredor que leva aos fundos de um prédio e que da de entrada a uma sala grande com um balcão onde uma senhora nos recebe um olhar que parece transpassar os seus óculos de armação fina e lente redonda, bem magra e parece ter seus setenta ou oitenta anos. Hoje parece que esta tudo igual à ontem.
 -Olá! Boa noite.
 -Oi, pensei que você realmente não voltaria.
 -Fiquei intrigado, não sabia se tinha sido só um sonho, tinha que tirar a prova e vim de novo.
 -Porque ficar preocupado se foi um sonho ou não, afinal nesse momento você pode estar sonhando.
 - Não! Eu não estou sonhando, eu sei o que é realidade.
 -Então ta. Aproveite os livros e se quiser pode levar algum para casa é só pagar o aluguel deles e devolver quando terminar de ler.
 -O que precisa para fazer o cadastro?
 -Nada não precisa de cadastro é só devolver os livros e pagar o aluguel. Por fim se você quiser roubar meus livros você vai fazer isso com ou sem cadastro.
 Aquela sala parece bem maior do que realmente é. Tantos são os livros que ali estão não sei nem por onde começar, algumas pessoas passam por entre as estantes param e folheiam os livros, escolhem seus livros e saem. Esse lugar é meio mágico para mim, um lugar onde eu posso ficar sozinho sem nenhuma preocupação. Vou passando por entre as estantes, e pego um livro, o livro fala da mitologia grega de seus deuses e suas lendas decido levar ele para ler.



Nossa será que sonhei de novo não consegui parar de ler nem me lembro quando fui dormi, não foi um sonho o livro esta aqui. Hoje quando sair do serviço volto lá para devolver, o dia esta mais bonito acho que Apolo dever ter caprichado nesse dia, ou, será que sou eu que agora conheço a lenda dele e estou prestando mais atenção.


Mais um dia de serviço, eu gosto do que faço sou um garçom me divirto com meus clientes mesmo os que dão trabalho, é legal ver até onde você se esforça para agradar um total desconhecido, e os companheiros de trabalho são fantásticos sempre da para contar com a maioria para tudo dentro e fora do serviço e eles também podem contar comigo sou meio que um terapeuta deles ou pelo menos acho que sou. Mas quando tudo termina, eu sempre estou só, não sei por que, mas sempre acabo me sentindo meio só mesmo cercado por muitas pessoas, sempre paro para ouvir, no entanto, acho que ninguém tem paciência para me ouvir.


Estou com o livro vou passar lá para devolver, nossa o lugar esta sempre do mesmo jeito nem parece que entrou alguém de ontem para hoje.
 -Oi
 -Já acabou o livro?
 -Sim, passei a noite lendo ele.
 -Você precisa dormir também às vezes.
 -Vou pensar nisso.
 -Que bom pensar é bom.
 -Grato vou dar uma olhada.
 -Fique a vontade.
Os livros parecem estar sempre prontos para nos acalmar, nos fazer sonhar, nos ensinar e sempre estão dispostos a guardar todos os nossos sentimentos, confidentes para quem sempre se pode chorar, pois os livros têm a palavra certa para o que precisamos. Olho um livro “Diários de Motocicleta” do Che Guevarra, levo ele para ler.


Mais uma noite e parte do dia sem dormi, mas, valeu o livro é ótimo. Vou devolvê-lo amanhã hoje tenho que voltar cedo quero dormir um pouco.
Tenho vontade de deixar tudo e sair por ai viajando como Che fez, mas, algo me impede de fazer isso talvez medo, ou sei lá...

 -Olá! Tudo bem com a senhora?
 -Sim e com você como foi a leitura?
 -Foi boa.
 -Você realmente gosta de ler, por isso vou te dar esse para você ler hoje.
 -“O conde de monte Cristo” Alexandre Dumas, um clássico.
 -Clássico que tenho certeza você ainda não leu.
 -É você esta certa ainda não li este. Grato amanhã eu devolvo.
 -Amanhã não eu vou estar fechada.
 -Esta bem.
Realmente o livro é muito legal, a vingança e suas destruições, até que ponto uma pessoa pode ir para satisfazer um sentimento tão corrupto,  como o amor pode sobrepujar qualquer obstáculo, como nos esquecemos de ver as coisas pelo ponto de vista do outro.

 -Boa noite, como à senhora esta?
 -Bem e você parece estar mais feliz hoje. Aconteceu alguma coisa?
 -Nada de especial, eu vou procurar um livro até daqui a pouco.
 -Vai lá.
Parece que mais ninguém entra aqui alem de mim, não é verdade já vi algumas pessoas aqui, passar por essas estantes ma traz tanta paz, sinto que o mundo para de girar, só para que eu fique passeando por esses livros, acho que hoje vou levar algum livro do Noah Gordon ele é um autor fantástico, aqui esta o “Ultimo Judeu” vou pega-lo, mas que mão é essa? Levanto minha cabeça, para ver quem esta querendo levar o mesmo livro que eu, aqueles olhos castanhos de uma vivacidade incrível, param olham diretamente para mim como se me conhecesse e ao mesmo tempo se mostra forte e inatingível, sua boca se move nos lábios um tom de vermelho que se confunde com a cor de sua pele morena, a delicadeza dos traços de sue rosto me encantam, seus cabelos negros preso com uma pequena mecha que cai do lado do seu rosto tocando os seus óculos, nos entreolhamos por um instante e os dois segurando o livro.
 -Com tantos livros você vai querer logo o que eu estava procurando?
 -Desculpe é que, não percebi que você estava vendo este livro.
 -Esta bem pode ficar com ele eu levo outro sem problema.
 -Amanhã o livro esta de volta e você vai poder ler ele.
 -Este bem, grato por isso.
Saio, me sentindo meio estranho eu realmente quero ler aquele livro, mas tudo bem posso esperar até amanhã.


O dia esta longo, não paro de pensar no livro ou será que só penso no rosto que eu vi, não sei dizer.
Falei do acontecido com um amigo ele nem se quer acreditou que exista a tal biblioteca, mas, deixa pra lá qualquer dia desses levo ele lá. Estou indo pegar meu livro e quem sabe eu a encontre.
 -Boa noite, a senhora esta bem?
 -Sim, deixaram um livro para você.
 -“O ultimo Judeu”?
 -Não, deixaram para você “O Alquimista”.
 -Quem deixou?
 -Uma moça morena que vem aqui de vez em quando.
 -A senhora sabe quem é ela?
 -Você vai ter que perguntar isso para ela.
 -Esta bem, grato de qualquer maneira.
O livro é bem legal fala de uma pessoa que busca um sonho e descobre que seu tesouro estava bem perto, mas para descobrir isso precisou viajar quase meio mundo. Na ultima pagina do livro tem um numero de telefone, fiquei me perguntando se é dela, vou ligar.
 -Oi, achei esse numero em um livro...
 -Que bom que você ligou, fiquei imaginando se você ligaria.
 -Você é a moça que pega o livro e não devolve.
 -Você só ligou para me cobrar o livro.
 -Não na verdade eu queria saber por que você me deixou esse livro para ler.
 -Queria. Não quer mais.
 -Não. Agora eu quero saber, por que você não me entregou ele pessoalmente?
 -Pra você me ligar e a gente combinar de nos encontrar.


Combinamos de nos encontrar no cinema, já estou começando a achar que levei um fora, ela vem vindo com uma roupa preta discreta o cabelo esta solto, esta sem óculos, ela é mais linda do que eu lembrava, o que ela tem na mão.
 -Oi.
 -Esta me esperando faz tempo?             
 -Um pouco.
 -Desculpa, me atrasei um pouco, mas trouxe um presente.
Uma flor feita com de papel, parecia que tinha acabado de ser feita, o filme foi bom, saímos depois do cinema para comer, cada palavra que sai de boca me deixa mais fascinado. Em alguns momentos parecia que ela é a mulher mais decidida do mundo e em outros parece ser a mais frágil, e eu não tenho medo de dizer nada para ela, isso é estranho como posso confiar tanto nela assim.
 -Vamos para casa
 -Vamos
 -Espera. Eu não sei onde deixei seu presente, acho que deixei cair em algum lugar.
 -Seu bobo eu faço outra para você.
Quando levantamos, eu me aproximei dela, seu olhar cada vez mais próximo, a sua boca bem perto da minha, nosso primeiro beijo.



 -Oi.
 -Nossa que susto que você me deu.
 -O que você esta fazendo na minha casa?
 -Casa! Meu amigo você esta no hospital.
 -Como assim...
 - Você bateu o carro alguns dias atrás.
Será que tudo foi um sonho? Não pode ser o que eu vivi não foi um sonho.
 -Tinha uma pessoa junto comigo, cadê ela?
 -Não tinha ninguém com você, a batida nem foi tão forte, mas você ficou inconsciente por quase dez dias.
Ele saiu do quarto me deixando sozinho, não pode ser não posso apenas ter sonhado com tudo. Viro-me para o lado há apenas um criado mudo com um copo de água e uma flor feita de papel. 

Um comentário: